Não necessitamos de muito para constatar que definitivamente o mercado educacional brasileiro está em um novo momento, basta avaliarmos o quanto a gestão da IES é demandada, por ações mais estratégicas e ágeis, quando avaliamos a competitividade de uma IES.
Nesse artigo, para delinear o Novo Mercado Educacional da graduação, serão apresentadas informações e análises, derivadas de duas principais fontes:
• Censo da Educação Superior 2021, recentemente divulgado,
• Insight de pesquisas da Hoper Educação.
Censo da Educação Superior 2021
Trabalhar exclusivamente com as informações oriundas do Censo da Educação Superior 2021, é de fato promover uma leitura do cenário “olhando pelo retrovisor” e com o carro em movimento (tempo). Nesse sentido, a Hoper busca de outras fontes, suas próprias pesquisas, para entender como realmente o mercado se apresenta no momento e/ou em futuro próximo.
Considerando informações do Censo 2021, em específico duas variáveis (quantidade de IES e volume de alunos - ingressantes por processos seletivos e matriculados), vamos avaliar o que este nos apresenta de “novo”, olhando para o cenário nacional.
Número de IES: Do total das 2.574 IES, em 2021, temos 2.261 (87,8%) atuando no Setor Privado, comparado com 2020, tivemos um aumento de 108 IES. Apenas 449 (20%), dessas IES ofertam algum curso na modalidade EAD, na rede privada.
Alunos Ingressantes: Desde 2019, o volume de ingressantes por processo seletivo na modalidade EaD, cresce mais de 20% ao ano, totalizando em 2021 o volume de 2,14 milhões de calouros, representando 72,8% no processo de entrada de novos alunos nas IES do Brasil.
É muito relevante considerarmos o impacto desse número na operação presencial da instituição, seja ela pequena ou não. Ficando mais complexo ainda, para as IES que não operam na EaD e nem se utilizam de alguma estratégia da virtualização de seus produtos (curso presencial).
Alunos Matriculados: Pela primeira vez no Setor (2021), tivemos o volume de matrículas da graduação, rede privada, maior na modalidade EaD, ou seja, 3,54 milhões de alunos (51,3%) estudando online.
Para efeito comparativo, esse número em 2015 era de 20,8%.
Vale aqui lembrarmos que não temos no portfólio da EaD a oferta dos cursos de direito e psicologia, os dois primeiros cursos mais demandados no Brasil.
Em suma, vários dos pontos aqui apresentados não foram ao nosso ver novidades. Tais resultados já eram previsíveis quando avaliávamos o cenário mercadológico educacional brasileiro.
Nesse ponto, tudo converge para a questão: Como devemos repensar os produtos ofertados (cursos) no setor, independente de estarem autorizados como presenciais ou EaD? Iniciamos a vivência de uma crise da experiência do aluno.
Insights pesquisas Hoper Educação
Particularmente, consideraremos alguns dos principais insights da nossa segunda versão (2022) da pesquisa PROSPECT DA GRADUAÇÃO EM 2023 (Onda 2), comparada com a primeira versão (2021 – Onda 1).
Nessa pesquisa online, realizada no período de 12 a 19 de novembro desse ano, com erro amostral 4,2% e IC 95%, ouvindo a população na faixa etária de 17 até 34 anos, consideramos quatro perfis de respondentes:
Cursando Atualmente: pessoas que iniciaram uma graduação e continuam cursando atualmente.
Pretende Cursar em 2023: pessoas que pretendem cursar uma graduação em 2023.
Não Cursa Nem Pretende em 2023: pessoas que não estão cursando, nem pretendem ingressar na faculdade em 2023.
Trancou o Curso: alunos que iniciaram o curso, mas precisaram trancar.
A distribuição dos respondentes, considerando a resposta nas duas ondas, correspondem ao formato apresentado abaixo, quando comprando Onda 2 com a Onda 1. Somente houve significativa alteração para o volume do grupo que está cursando atualmente, com redução de 27% para 20%.
Continuando a comparação entre as ondas, vamos ver que ocorreu com as pessoas do grupo que pretendem fazer uma graduação em 2023 e os que trancaram o curso recentemente.
Pretende Cursar em 2023: Esses continuam com intenção de iniciar o curso no SEGUNDO SEMESTRE DO ANO. A modalidade online agrada esse grupo, permanecendo um interesse por iniciar o curso de forma SEMIPRESENCIAL, enquanto há uma queda significativa (-12%) do interesse pela modalidade presencial ao comparar com a pesquisa de 2021.
Trancou o Curso: Para esse público, o modelo PRESENCIAL para ingressar na universidade continua se destacando. Vale ressaltar que dentre esses que já cursavam uma graduação e trancaram o curso, 64% PRETENDE RETORNAR NO ANO DE 2023.
Em síntese, 29% dos entrevistados dizem interessados em ingressar numa graduação em 2023, onde 48% indicam que o momento de ingressar será no primeiro semestre de 2023 e buscam, prioritariamente, iniciar o curso no formato SEMIPRESENCIAL, com até 03 dias com aulas presenciais.
Além de 2023: 10 pontos que reforçam esse novo Mercado Educacional
É relevante evidenciar pontos que podem nortear uma leitura prospectiva do setor, por isso apresentamos 10 pontos que devem ser ponderados por gestores de IES ou pesquisadores, sob a ótica dos possíveis futuros do mercado educacional brasileiro.
Produtos Ofertados: o próprio mercado se encarregará de apresentar novas configurações para os produtos da graduação, visando a melhor experiência do alunado.
Demanda dos “atendidos” (prostects e matriculados): haverá maior significado na demanda, atendimento tanto dos prospects quanto dos alunos, tendo em vista o excesso da oferta e a alta competitividade do setor.
Momento Político do Brasil: o mercado poderá ser impactado por alguma provável política adotada pela nova equipe governamental (2023/2025), mas não de maneira que sofra grandes reestruturações. Importante que as ações estratégicas dos grupos educacionais, grandes ou pequenos, não fiquem ancoradas nessa premissa, pois a força decisória dos “atendidos” pelo setor será muito maior.
Aspectos Econômicos: Quando ocorrer a melhoria na condição econômica do Brasil, teremos também novas forças positivas atuando no setor educacional, devido a melhor condição de compra da população.
Área da Saúde: Sendo cíclico a evidente maior demanda que encontramos hoje para os cursos da área da saúde, em futuro de melhoria econômica, teremos o restabelecimento de outras áreas. A exemplo, a retomada das áreas de engenharias e de tecnologias, porém isso não deve ocorrer no mesmo formato já vivenciado pelo mercado anteriormente.
Grandes Grupos: Possuem e continuarão tendo forte relevância no cenário mercadológico nacional, porém teremos novas configurações, tanto da força dos Grandes Grupos (consolidação) quanto da sua condição de inovar as ofertas de novos produtos, pensado no uso de tecnologia, visando a customização das experiências do alunado.
Uso de tecnologias: Terá maior relevância na transformação do setor, tanto pelas novas necessidade e desejos dos “compradores”, quanto pela mudança de vida da população (geracional e hábitos de consumo - 4ª Revolução Tecnológica).
Novos entrantes no Setor: Por uma questão natural da evolução do mercado e da disponibilidade de ferramental tecnológico, novos entrantes aparecerão, ocupando nichos de mercado, até então, pouco explorados.
Instabilidade das Operações: Será inevitável, para os atuais gestores do setor, o desenvolvimento de habilidades que mitiguem as condições de instabilidade de operação no mercado educacional.
Gestão Profissional: Será inevitável a melhor performance dos atuais competidores, grandes e pequenos, tendo em vista que para a melhor atuação das IES, deverá ser qualificada a gestão (tática e operacional) destes.
Em 2019, já apresentávamos que em futuro mercado educacional, haveria sim oportunidades, mas estas seriam exclusivas para instituições/grupos que apresentassem uma gestão profissionalizada, com ênfase na aplicação de estratégias mercadológicas. Essa leitura, continua válida, principalmente quando a ela, associamos os 10 pontos apresentados acima.
Você Gestor, está realmente convicto de que o seu time está pronto para esse Novo Mercado Educacional? Quantos, dos 10 pontos acima são do seu conhecimento e do conhecimento da sua equipe de operação?
Paulo Presse
Coordenador da área de Estudos de Mercado da Hoper Educação
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