Existe um paradoxo entre o sucesso da captação de alunos para os cursos de graduação a distância nos últimos anos, e a real expectativa de ingresso no ambiente universitário entre os calouros mais jovens.
Por um lado, as pesquisas com os participantes do Enem, feitas em parceria entre a Hoper Educação e o Curso Enem Gratuito, desde 2019, mostram uma sintonia plena entre o anseio de ascender pela via da educação, e o amplo acesso permitido pela EaD.
Mais de 75% dos participantes do Exame Nacional do Ensino Médio declaram fazer as provas com o propósito de entrar na faculdade no ano seguinte ao exame.
Por outro lado, as mesmas pesquisas mostram que, ao responder à pergunta sobre qual a modalidade de ensino os participantes almejam para entrar na vida universitária, a resposta anual oscila entre 94% e 96% de preferência para o ensino presencial.
Esta é a resposta dada na pesquisa aplicada na fase imediatamente anterior à data das provas, entre um ou dois meses antes da realização dos exames.
O Paradoxo da EaD
Porém, uma vez divulgados os resultados do Enem, e realizadas as etapas de ingresso pelo SISU nas universidades públicas, pelo PROUNI, para as Bolsas de Estudo no Ensino Privado, para os financiamentos do FIES, e os processos seletivos das instituições particulares, o resultado anual tem sido majoritariamente a favor de matrículas no Ensino a Distância.
A estatística é incontestável: no cômputo geral do Censo da Educação Superior (INEP-MEC), somados o Ensino Público e o Ensino Privado, em 2017 a EaD teve 33,27% dos ingressantes. Em 2018, foi a 39,85%. Em 2019, saltou para 43,82%.
Em 2020, as matrículas de calouros na EaD pularam para 53,35%, exercendo a hegemonia no Ensino Superior. O mesmo fenômeno já tinha ocorrido no Ensino Privado, em 2019.
Agora, pelo Censo 2020, e pelas projeções da Hoper para 2021 e o acompanhamento do mercado em 2022, generalizou-se a preponderância de calouros na EaD.
Como conciliar sonho e realidade?
Como é possível destrinchar o paradoxo de que, na fase aspiracional, da expectativa de ir ao Ensino Superior, ter a declaração acima de 90% dos participantes do Enem de preferirem o Ensino Presencial. E, por outro lado, de verificar, na matrícula, que mais de 50% dos ingressantes estão na EaD?
As explicações aparecem nas pesquisas “pós-matrícula”, quando a Hoper e o Curso Enem Gratuito perguntam aos calouros as razões pelas quais ingressaram na modalidade a distância.
Por que você escolheu a EAD?
Em primeiro lugar, nas respostas pós-matrícula, aparece o fator do Menor Preço das mensalidades na EaD. O valor fica, na média, entre 60% e 75% mais barato que a mensalidade do curso equivalente no Ensino Presencial.
Em segundo lugar, mesmo para a EaD, o critério da Localização aparece como muito forte na decisão dos estudantes. Afinal, a capilaridade dos polos das principais IES ofertantes cobre praticamente todos os municípios com mais de 15 mil habitantes, em todo o território.
Na terceira posição aparece a questão da Flexibilidade, intrínseca à modalidade. A EaD permite conciliar estudo e aprendizagem a qualquer tempo, facilitando ao estudante ingressar ou manter as atividades profissionais ou familiares.
Na quarta posição aparece a Disponibilidade de Cursos, com um amplo leque de produtos. Estes três fatores agregados, da Flexibilidade, da Localização, e do Amplo Catálogo, somam-se de maneira radical ao Menor Preço.
Juntos, estes quatro fatores tornam a EaD praticamente “o caminho possível” – mesmo não sendo o desejado, para a grande maioria da população de um país pobre e de economia praticamente estagnada para entrar no Ensino Superior.
Uma EaD “mais quente” é melhor
Comemorar o sucesso da modalidade, para um profissional que desde 1995 vem atuando em prol da EaD, antes ainda da Internet, e depois abrindo picadas constantes para o Ensino Digital, é natural. Uma decorrência pelos cinco anos à frente do laboratório de Ensino a Distância da UFSC, mais nove na direção do Campus Unisul Virtual, um ano implantando EaD no IESB, e onze na Hoper.
Porém, como professor e psicólogo, eu me exijo olhar para o calouro considerando que, poucos meses antes da matrícula na EaD, ele declarou que “preferia o Ensino Presencial”.
Na prática, significa que a maioria absoluta que entrou para a EaD o fez pelas contingências da vida econômica restrita, pelas responsabilidades profissionais precoces no Brasil, pela maternidade ainda na adolescência, ou pela absoluta falta de condições de ter feito o Ensino Superior “na idade certa”.
A dica da Hoper Educação e do Curso Enem Gratuito, é que as IES ofertantes da modalidade não se olvidem destas características. E que busquem, mesmo em modelos de educação a distância online, oferecer socialidade aos estudantes.
Os estudantes da EaD demandam por vida comunitária e interações não formais – no ambiente digital, nos polos ou na sede. Estes alunos querem e precisam ir além do aprendizado curricular. Faz bem para a saúde afetiva e mental do ser humano. Faz bem para a vida em geral, e ainda por cima reduz a evasão.
Por uma EAD mais quente, e melhor. Essa é a pegada. Bora?
João Vianney
Sócio-consultor da Hoper Educação e Diretor do Blog do Enem
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