Neste momento, se vamos falar de educação, temos também que falar do que nos salta aos olhos, a guerra dos preços das mensalidades dos cursos superiores. Nos últimos anos, e recentemente de forma mais acentuada, vemos uma batalha por alunos entre instituições que vendem seus cursos de graduação e pós-graduação usando a variável preço como seu principal chamariz para que o aluno faça a sua escolha educacional e profissional.
É certo que os preços de mensalidades, de uma maneira geral, seguem uma lógica de mercado bastante conhecida, a lei da demanda e da oferta. Quanto maior a demanda de produtos ou serviços em relação a oferta apresentada, sempre teremos uma tendência de alta de preços. E quando tivermos uma oferta maior de produtos ou serviços do que a demanda instalada, teremos uma tendência de baixa de preços. A educação, por mais nobre que seja, também é um serviço prestado, e por esse aspecto seguirá essa mesma regra geral do mercado quando ofertada em ambientes de livre mercado.
O mercado educacional brasileiro viveu, décadas atrás, o oposto do momento que temos atualmente. A educação, controlada pelo estado, vivia momentos de alta demanda educacional e uma baixíssima oferta de cursos superiores. E quando havia cursos, havia poucas vagas para a sociedade. O estado, sem recursos suficientes para suprir a demanda, ofertava o que conseguia.
A falta de investimentos, na época, criou uma situação desastrosa para todos. Havia uma população querendo estudar para gerar mais valor para si, e por tabela para a sociedade, e o estado, sem recursos, ofertava pouco, sem compreender direito que isso o prejudicava quando, por esse meio, travava o desenvolvimento do país. Aquela história do “eu não faço, e não deixo ninguém fazer”.
Final da década de 90 e início dos anos 2000, o estado cai em si, percebe o quanto estava atrapalhando o país, e começa uma abertura ampla atingindo também a educação superior que já estava prevista na constituição de 88, m
as ainda não executada. Assim, abre para a livre iniciativa a possibilidade de participar do desenvolvimento da nação por meio da oferta de cursos pagos de educação superior para a sociedade. Um boom sem precedentes acontece no país. Escolas superiores começam a brotar onde faltava educação, acontecendo principalmente nas cidades do interior. A alta demanda reprimida por décadas começava a ser atendida.
Mas essa demanda reprimida por educação era tão alta que criou uma falsa percepção de demanda ordinária, quando na verdade era extraordinária. Esse cenário trouxe para o mercado educacional uma explosão de oferta na época, e foi assim por muito tempo para atender tanta demanda. Vinte anos depois, agora com a demanda reprimida da época praticamente atendida, temos uma oferta instalada que busca atender a sua demanda interna, e assim se sustentar como qualquer negócio que vive o mercado livre.
A busca pela eficiência começou antes da queda dos preços das mensalidades, mas essa variável sozinha não foi suficiente.
As instituições de educação superior, como qualquer outra empresa, começam a reagir diante do novo mercado que está diante deles. Com a evidente diminuição da demanda de alunos, precisam ser mais eficientes para baixar seus custos operacionais (que são muito altos quando lidamos com a educação superior). Assim, essas instituições buscam se modernizar, comprar conteúdos em vez de produzi-los, centralizar seus serviços internos, reduzir carga horária de professores e expandir a sua base de alunos.
A busca pela eficiência começou antes da queda dos preços das mensalidades, mas essa variável sozinha não foi suficiente. A busca pela expansão da base de alunos era inevitável de qualquer forma. Mas a eficiência atingida por muitas dessas instituições permitiu criar fôlego financeiro para baixar o preço da mensalidade, e assim usar essa variável como o atrativo principal para a expansão da sua base de alunos. A roda da escalabilidade começava a girar com o empurrão da possibilidade da educação superior a distância.
Agora temos um mercado altamente comoditizado, os cursos são muito parecidos, a pressão pela eficiência tornou muitas instituições praticamente iguais. A principal diferença entre muitas delas está no atendimento ao aluno e no preço da mensalidade. Buscam ser diferentes no atendimento e fazem pressão para baixar o preço na busca por mais alunos.
A guerra de preços se instala... compre um curso de pós e ganhe outro... qualquer curso por X reais de mensalidade... promoção Black Friday... promoção Black Week... bolsas de estudo de até 40%, 50%, 60%, 70%... isenção da matrícula... isenção das 3 primeiras mensalidades... curso em dobro... descontos para pagamentos à vista... descontos no curso todo.
Para contextualizar melhor essa situação toda, muitos cursos superiores, hoje, são mais baratos do que os mesmos cursos 10 anos atrás, e falamos de valores nominais, sem aplicar qualquer inflação, correção monetária ou aumento de custos durante o tempo. Isso só pode ser explicado com melhoria da eficiência, redução de custos e aumento da base de alunos.
No entanto, acredito que as instituições devam estar mais atentas a essa guerra, pois existem limites, não de preço, mas de percepção de valor. O mercado não compra apenas o preço. Da mesma forma que um preço baixo nos aproxima do nosso desejo de consumo, quando muito baixo também nos afasta, não do desejo, mas do produto. A percepção de preço também traz a percepção de qualidade do que queremos.
Sendo pragmático, quando saímos de casa para comprar algo de uso pessoal, sabemos que pagamos pelo que levamos, e por isso, procuramos o melhor produto possível dentro do quanto temos disponível ou do quanto estamos dispostos a pagar por aquilo que compramos. Essa percepção de valor e preço faz parte das decisões que tomamos o tempo todo quando buscamos algo, seja para nossas casas ou para nós mesmos. Imagine então quando falamos de nossas vidas e nossa formação profissional.
Não estou procurando associar o valor do curso à qualidade do mesmo com esse artigo. Longe disso. Sabemos que existem cursos bons e cursos ruins, instituições boas e instituições ruins, tanto públicas quanto privadas, e tanto a distância quanto presencial. O universo da oferta é mais complexo e diversificado, inclusive nos preços. Estou querendo deixar aqui a ideia de que uma simples guerra de preços pode significar a não sobrevivência de uma instituição, pois se a sociedade não perceber qualidade suficiente, poderá estar disposta a pagar mais para estudar em outra instituição, apesar do preço.
Digo isso pois entendo que a guerra de preços que estamos assistindo é o resultado de decisões tomadas por instituições que acreditam estarem determinando o desejo dos alunos. Mas a próxima fase talvez seja a determinação da sociedade em escolher o que acredita ser bom para ela ou não, e fará isso conforme a sua percepção de “valor”, e não apenas de preço.
Prof. Dr. Malcon A. Tafner
Sócio-consultor da Hoper Educação
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