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pandemia de novas ideias

Uma pandemia de novas ideias

Prof. Dr. Malcon Anderson Tafner

08.ABR.2020

Todo grande problema que enfrentamos em nossas vidas, também traz consigo grandes benefícios, aprendizados e novas soluções, mas só as percebemos quando temos olhos para o que é novo, e de certa forma inesperado.

Todo grande problema que enfrentamos em nossas vidas, também traz junto grandes benefícios, aprendizados e novas soluções, mas só as percebemos quando temos olhos para o que é novo, e de certa forma inesperado. No caso do COVID-19, o coronavírus, que está dizimando milhares de pessoas ao redor do mundo, atravessando fronteiras como se fosse fumaça, não é diferente. Na mesma medida em que traz grandes problemas de controle social e de saúde, e por consequência uma tonelada de problemas de ordem social e econômica, também nos traz um futuro diferente, que ainda não reconhecemos em meio à tanta confusão e fumaça.

 

Sairemos dessa crise sanitária? É claro que sim, como também saímos de tantas outras crises provocadas por vírus na nossa história passada, tais como a pandemia de cólera de 1820 e a gripe espanhola do começo do século passado. É certo também que, atualmente, nossos sistemas de saúde são muito superiores aos que eram em épocas passadas, também temos muito mais opções de medicamentos e vacinas do que tínhamos. Precisamos considerar também que existem hoje mais cientistas trabalhando do que jamais tivemos no passado e, principalmente, dispomos de conhecimento suficiente para entender melhor o que está acontecendo. Enfim, já aprendemos algo do passado que sabemos usar no presente.

 

Igualmente, temos conhecimento para compreender o que está por vir no nosso horizonte futuro... e agora estamos falando de um novo mundo com novas fronteiras socioeconômicas que nascerá dessa infeliz realidade da pandemia que vivemos agora. Uma crise sanitária que se tornou uma pandemia global quando atravessou as fronteiras da China. Esse novo mundo ainda não está lá fora, embora esteja vindo com muita força, e muitos de nós ainda não percebemos qual será o alcance de tantas mudanças. Esse mundo está começando dentro das nossas cabeças.

 

Num primeiro momento teremos sim uma nova e forte recessão econômica, que surgirá inevitavelmente por conta do isolamento social imposto (algumas vezes necessário) pelos governos como forma de adequar a velocidade da pandemia ao sistema de saúde de cada sociedade. Mas vamos falar das outras mudanças, daquelas que deixarão um legado de longo prazo. A recessão econômica terá seu tempo de recuperação, assim como a pandemia também terá o seu.

 

A internet, apesar de já fazer parte das nossas vidas, agora será beneficiada com investimentos bilionários para atender uma demanda ainda inimaginável. Nessa crise, todos usaram internet para tudo o que fosse possível: comida em casa, lazer, comunicação, educação, aprendizado, conforto pessoal, trabalho, enfim... a internet nunca foi tão demandada como utilidade pessoal como está sendo nessa pandemia. Por isso mesmo as bandas de comunicação subirão dos megabytes para os gigabytes para atender uma demanda de comunicação, videoconferência e educação de forma ainda não mensurada. É uma questão de muito pouco tempo, nada mais.

 

Aliás, falando em comunicação, teremos um salto de tecnologia nos próximos dois ou três anos que afetará as formas de relacionamento pessoal em escala global. Usaremos tecnologias de videoconferência e comunicação como nunca foi usado até então. Embora muitas dessas tecnologias já estivessem disponíveis, nossos hábitos ainda eram de presencialidade. Assim, nesse primeiro momento, vamos buscar no mercado o que tem a nossa disposição embalados pela pressão do isolamento social, mas a partir dessa fase isso tudo mudará, e muito.

 

Com o isolamento social imposto, as pessoas estão se adaptando ao uso de tecnologia para intercomunicação, e muitas estão gostando dessa experiência. É mais seguro, mais rápido, funciona bem e é mais confortável do que passar horas e horas em trânsito em aeroportos ou dentro de carros para reuniões que às vezes são de importância relativa. Além disso, essa demanda impulsionará esse mercado e veremos o surgimento de novos softwares de comunicação. Em pouco mais de 2 anos você não usará mais o que está usando hoje para fazer videoconferências ou comunicação. Muita inovação virá dessa área a partir de agora.

 

Na área da educação a revolução a distância já vinha acontecendo, mas agora se tornou inevitável. Durante essa crise, milhares de escolas e universidades que não possuíam essa estratégia educacional começaram a ensinar de forma mediada por tecnologia, ou seja, a distância. Assim, o modelo de educação a distância que vinha se consolidando agora pode-se dizer que está consolidado como solução real para a educação como um todo. Da mesma forma, a educação presencial passará a migrar para modelos híbridos de forma natural, não mais como novidade ou caprichos, mas como solução efetiva para muitos problemas, inclusive sanitários.

 

Não haverá mais tantas “viagens de negócios”, na medida do possível as pessoas irão substituí-las pelos novos meios de comunicação para estarem mais em suas casas, não apenas buscando o conforto do lar, mas também segurança sanitária. As pessoas evitarão as grandes aglomerações, principalmente em cidades onde foram epicentros da pandemia, como New York e Milão.

 

A diminuição da circulação de pessoas também remete ao um novo momento para o turismo. Esse setor que participa ativamente da roda econômica pela alta velocidade e capilaridade econômica vai mudar bastante. Continuará existindo? É claro que sim, mas muitas pessoas evitarão shows, festivais de música, encontros religiosos, grandes comemorações e eventos. O turismo vai se reinventar em áreas que ainda não exploramos ou sequer conhecemos, e por isso teremos novas opções de lazer que serão consideradas mais seguras do ponto de vista sanitário. Se o turismo não se reinventar, certamente vai se adaptar.

 

Algo muito positivo nesse problema todo é que estamos desenvolvendo uma real percepção de cuidados com a higiene pessoal. Lavaremos mais as mãos, usaremos mais álcool e cobraremos mais higienização dos ambientes onde circularemos. Essas mudanças de postura parecem pequenas, mas não são, de fato são gigantes, pois mudarão a propagação de resfriados e doenças que atuam por contaminação entre a população de uma forma geral, e com isso nos infectaremos menos do que temos sido infectados até então.

 

Nessa mesma linha de saúde é inevitável que haverá mais recursos para a saúde num primeiro momento. Poderá diminuir ao longo do tempo como sempre ocorreu, mas será cobrado pela sociedade nas eleições dos próximos anos. Enfim, entra na agenda social e política. Por isso, laboratórios e empresas farmacêuticas enxergam um universo econômico forte no mundo das vacinas e novos medicamentos para futuras pandemias e a saúde pessoal em geral. Assim como encontrarão rapidamente uma vacina ou medicação para o Convid-19, o tempo médio de descoberta de novas soluções farmacêuticas também irá diminuir, seja por maior colaboração entre os cientistas ou por um inevitável afrouxamento de testes para dar respostas mais rápidas à sociedade.

 

Todos se conscientizaram que uma nova pandemia global como essa precisa ser combatida da forma mais rápida possível para gerar menos prejuízo social e econômico como essa gerou até o momento. Todos foram atingidos em bilhões e bilhões de dólares. Esse prejuízo levará anos para ser superado, e muitas outras pessoas morrerão por conta dos efeitos dessa ruptura econômica. Na prática, em função das questões econômicas, os órgãos de saúde terão maior relevância em agendas de governo e em acordos internacionais.

 

Também por conta desse megaproblema econômico surgido do isolamento social forçado pela pandemia, teremos uma mudança evidente nas novas relações comerciais internacionais procurando evitar atritos de governos. Será inevitável e profilático que novos protocolos de entendimento comercial surjam para lidar com novas crises que poderão surgir como essa em termos de defesa econômica para situações extremas. Na prática, acordos comerciais incluirão clausulas específicas para lidar com atrasos e impedimentos de pagamentos ou de produção ocasionados por decisões de governos.

 

Ainda falando da ordem econômica, e buscando atenuar os efeitos financeiros provocados pelo isolamento social, ainda não compreendidos inteiramente, haverá meios de flexibilidade nas relações trabalhistas entre empresa e colaboradores. Isso será mais percebido em países que adotam meios de defesa trabalhista que engessam as relações e, consequentemente, as soluções. Esse problema terá sua própria agenda em discussões daqui para frente em qualquer agenda legislativa. A pandemia não escolheu “quem”, “quando” ou “como”, e por isso mesmo a flexibilidade deverá ser tratada como ferramenta de manutenção da ordem econômica. 

 

As leituras que fiz nesse pequeno texto abordam algumas das mudanças pós pandemia que teremos pela frente. Muitas outras virão como subprodutos dessas ações todas. Embora ainda não estejam em nossas vidas, farão parte em muito pouco tempo. Pode parecer uma visão otimista da crise, mas de fato não é, é apenas uma visão reativa de um problema que precisará de soluções sociais e econômicas além das sanitárias. 

 

Essa crise, embora cruel no momento, nos força a nos reinventarmos mais uma vez para nos adaptarmos à novas realidades que não esperávamos, e por isso mesmo estão causando tantas dificuldades no momento. De certa forma, confesso que estou meio empolgado para ver o que tudo de novo irá surgir e acontecer daqui para frente, pois muitas serão mudanças que farão ser ainda mais fortes do que fomos. Enfim, continuamos aprendendo e crescendo.

PROF. DR. MALCON ANDERSON TAFNER | Sócio da Hoper Educação

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