Estamos diante de um mundo bastante diferente daquele que prevíamos como seria há 30, 20 ou mesmo 10 anos atrás. Podemos também dizer até inimaginável sob muitos aspectos. Entre esses aspectos posso citar o avanço surpreendente e recente da Inteligência Artificial, fato que poucos acreditavam que se popularizaria tão rápido e de forma tão abrangente como vem acontecendo nos últimos tempos.
A Inteligência Artificial, cuja abreviação popular é tida como IA, não é uma proposta nova. Ideias já eram propostas por Alan Turing na década de 50 do século passado. Turing foi o criador do primeiro computador e foi usado na Segunda Guerra Mundial para quebrar códigos nazistas que eram gerados pela máquina Enigma. Uma engenhoca que permitia aos nazistas emitir mensagens em códigos cifrados. O Enigma teve sua eficiência quebrada pelo protótipo de um computador criado por Turing em 1940. Decodificava até 80 mil mensagens por mês.
Após a Segunda Grande Guerra, nos anos 50, Turing se dedicou a desenvolver computadores e foi um dos pioneiros da Inteligência Artificial, e na época teorizou o “Teste de Turing”. Esse teste propõe que se um computador se passar por um humano em uma conversa por textos sem que o seu interlocutor humano perceba de que se trata de uma máquina, pode-se dizer então que o computador tem um nível de inteligência.
Mas a bem da verdade a IA estava muito no começo nessa época, de fato estava nascendo. Outras tecnologias avançaram mais e antes, como foram os microchips, os supercomputadores, a computação gráfica, os bancos de dados, a internet, a internet das coisas, o processamento nas nuvens, reconhecimento de imagens, faces e voz, e tudo se conectando. Megabytes, Gigabytes, Terabytes e agora Petabytes.
E a Inteligência Artificial, onde estava? Estava num cantinho da história, fazendo seus experimentos em laboratórios e avançando sem chamar a atenção de ninguém. Lá do seu canto, a IA exigia cada vez mais processamento e gigantescos banco de dados. Mas ninguém se importava muito com isso. A IA parecia algo do futuro que veríamos no futuro. E enquanto o mundo avançava, quase de forma imperceptível, parecia estar atendendo as demandas da IA.
Então, de forma disruptiva, surgem plataformas de IA que interagem de forma surpreendente com seres humanos. O Teste de Turing parece ter sido superado, e levou apenas 70 anos, uma fração minúscula do tempo na escala da história humana. Essas plataformas fazem hoje o que nunca imaginamos que iriam fazer, pelo menos não tão cedo. As plataformas de IA roubaram a cena e os holofotes do momento. O metaverso, por exemplo, que prometia uma revolução humana, parece destinado a afundar.
Fiquei pensativo e resolvi conversar com a IA para tirar algumas dúvidas. Fiz uma pergunta: “como você funciona?”, e a IA me respondeu:
“Meu funcionamento é baseado em uma arquitetura chamada GPT (Generative Pre-trained Transformer), que utiliza redes neurais para processar e compreender o texto. Durante o treinamento, fui exposto a diversos tipos de texto, como artigos, livros, páginas da web e conversas, para aprender a estrutura da linguagem e capturar informações úteis.”
Quando eu fiquei preocupado com a abrangência dessa comunicação, a própria IA ressaltou o cuidado em usar suas “respostas” dizendo:
“Embora eu possa fornecer informações úteis e responder a muitas perguntas, é importante verificar sempre a validade e a precisão das informações que eu forneço, especialmente em assuntos que podem ter mudado desde a minha data de corte de conhecimento.”
Esse alerta, importante, tem sido descartado pela grande maioria dos usuários. Estamos vendo pessoas usando a IA de forma contrária como ela mesmo pediu para que não fizessem...
Estudantes usam as respostas da IA sem checar nada para resolver suas tarefas educacionais. Perguntas de matemática, história, geografia, química, biologia, e sabe-se lá mais o quê estão sendo respondidas por Bancos de Dados inteligentes. A IA parece ter virado o Oráculo do século XXI, e nem precisamos entrar em transe, basta estar conectado numa internet... o que não deixa de ser uma espécie de transe também.
Mas se eu fosse um bom grego que vivia em Delfos há 2,5 mil atrás, perguntaria para a IA: “Como a inteligência artificial pode ajudar a educação?”. E feita a pergunta, a IA, como se fosse um Oráculo, me deu uma resposta:
“A inteligência artificial (IA) tem o potencial de desempenhar um papel significativo na transformação da educação. Aqui estão algumas maneiras pelas quais a IA pode ajudar:
1. Personalização da aprendizagem
2. Tutoria virtual
3. Automatização de tarefas administrativas
4. Análise de dados educacionais
5. Aprendizagem adaptativa e simuladores”
E para cada um desses itens acima vieram diversos parágrafos com ideias de como fazer. Resolvi poupar os leitores, embora fossem úteis e interessantes, mas não é o foco desse artigo.
Quando eu estava começando a pensar que iríamos ser substituídos por máquinas, a IA deve ter percebido a minha preocupação e resolveu dar uma aliviada. Disse que “é importante lembrar que a IA não substitui o papel dos educadores. Ela serve como uma ferramenta poderosa para apoiar e aprimorar a educação, permitindo que os educadores se concentrem em atividades mais sofisticadas, como orientação individualizada, mentoring e o desenvolvimento de habilidades socioemocionais nos alunos.”
Então é isso... vamos olhar a IA com os olhos de como a própria IA diz, e esquecermos dela como um Oráculo de Delfos. Será um desafio, e sabemos disso, mas como diria um amigo meu de muitos anos, temos que avançar, mas manter um olho no gato e outro no passarinho, ou melhor, um olho na IA e outro no Teste de Turing.
Prof. Dr. Malcon Anderson Tafner
Sócio Consultor da Hoper Educação
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