Avaliar, segundo o Dicionário Houaiss, é sinônimo de valorar, aferir, examinar, verificar e também de eficiência/eficácia. Mensuração e medida são termos comuns, ou seja, uma ferramenta de controle e de fiscalização, o que transmite aos envolvidos, no processo avaliativo, uma imagem negativa de danos em vez de benefícios ao avaliado. Na prática, é difícil para muitos encarar a avaliação como um processo de crescimento e desenvolvimento pessoal/institucional.
Para o Ensino Superior, o papel dos indicadores de qualidade no contexto da avaliação da Educação Superior, na formulação de bases e referenciais sólidos que subsidiem o processo, conta com o ENADE como ponto de partida e de chegada para a avaliação. O processo se inicia com a avaliação do estudante (ENADE), que possibilita o cálculo dos insumos para compor o conceito preliminar de curso. Na sequência, com a média dos CPCs, realiza-se o cálculo do indicador de qualidade da instituição (IGC) e, em seguida, realizam-se as avaliações in loco. Estas avaliações podem ou não confirmar os resultados alcançados anteriormente e dar uma visão plena do padrão de qualidade da oferta da Educação Superior. Trata-se de um ciclo avaliativo que permite ao avaliador e ao avaliado traçarem rumos, metas e inovação na busca da qualidade.
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Tanto a qualidade quanto à competitividade, possivelmente gerada pelo desempenho satisfatório, tornam-se uma estratégia competitiva para as IES, uma vez que o mercado, num contexto geral, sempre busca pelos melhores produtos e serviços.
Instigadas pelo processo avaliativo a que são submetidas, as Instituições de Ensino Superior buscam, redesenhar continuamente sua estratégia competitiva, tornando a busca pelo alcance dos índices de qualidade um processo contínuo que exige, por vezes, um melhor desempenho no cumprimento de sua função, oferecer ensino de qualidade.
Não bastassem todos os desafios derivados do contexto da pandemia Covid-19, vivemos, ao longo dos últimos dois anos, um período de incerteza quanto ao prosseguimento dos processos avaliativos. Mais que isto, a “disputa” entre as instituições que “pensam” o ensino superior brasileiro evidenciou a falta de sintonia entre INEP, CNE, CONAES e tantas outras organizações que convivem com indicadores de qualidade acadêmica. Termos novos ficaram aderentes ao SINAES como: prorrogação, adiamento, cancelamento, regularização dentre outros.
E assim aconteceu o primeiro ENADE pós-pandemia, o ENADE 2021, com a regularização do 7º ciclo através da Portaria 41 de 20 de janeiro de 2022, trazendo novamente, um trilho importante para a preparação das IES e de seus processos.
A expectativa de resultados pós-pandemia, é uma resposta à pergunta: Quem deu “conta” da aprendizagem durante a pandemia? O resultado do ENADE 2021 certamente responderia um pouco mais sobre o período pandêmico, evidenciando quem “virou” a jornada presencial para o ambiente remoto e “garantiu” a aprendizagem de seus alunos.
Vale lembrar que ao longo de dois anos tudo aconteceu em ambiente online no Brasil e no mundo, este fato faz com que a comparação das modalidades de ensino presencial e EaD fiquem um pouco “esvaziadas”.
Outro item relevante diz respeito aos comparativos dos “big players” (também chamados de consolidadores). Com grandes “movimentações” de compra/venda, aquisições/fusões, o mercado de maneira geral esteve atento a estes resultados, buscando entender de maneira clara e comprovada, mediante os resultados de ENADE, quem “faturou” e bem a conta da aprendizagem.
Para “calçar” uma visão acerca dos resultados do ENADE 2021, vale registrar que tivemos quase 70% do alunado oriundo da educação privada, por conseguinte, uma diferença de aproximadamente 1/3 dos alunos da rede pública. Resultado de um ciclo que engloba licenciaturas (área forte do ensino superior público), mas também reflete a Educação a Distância no ensino superior privado. Nesta reflexão é importante ressaltar a volumetria de alunos em prova. Os alunos da modalidade EaD representam 52% do total de inscritos.
A estratificação socioeconômica do perfil do alunado, deixa claro o perfil de EaD – um aluno com mais idade, casado, e que trabalha 40h semanais. Por conseguinte, desafios maiores para aprendizagem que necessariamente não reflete diferença entre as modalidades (presencial/EaD). Vale uma vez mais o registro, ambas modalidades estiveram por 2 dos 3 anos de estudo do triênio, em ambientes online.
O aluno da modalidade EaD tem um perfil diferente se comparado ao aluno da modalidade presencial, são mais velhos, casados e trabalham 40 horas ou mais por semana. A princípio este é um perfil mais “vulnerável” para a aprendizagem se comparado ao aluno da modalidade de ensino presencial. Os resultados do ENADE foram tão baixos que não colaboraram para que o IDD, o indicador de valor agregado que entra com o expressivo peso de 35% no cálculo do CPC (conceito preliminar de curso), fosse melhor.
De maneira geral, poucos cursos, efetivamente, “agregaram valor” aos seus alunos no que tange ao conceito de IDD, chamando atenção que ¼ dos cursos perderam nota do ENADE para o IDD. É importante ressaltar que comparamos um ENEM sem pandemia com o ENADE no contexto pandêmico, desta maneira, isto pode ser um dado sazonal/pontual quer merece ser acompanhado no ENADE 2022.
Trazendo a discussão de resultados do ENADE, quando comparamos cursos, percebemos que o EaD representa tão somente 12% dos cursos, no entanto, quando se trata de volumetria, conforme já apresentamos, o EaD é maior. Abre-se, portanto, uma vez mais, a discussão acerca da “volumetria” e/ou “escala” como “chave” da discussão para análise de resultados (Conceitos ENADE).
É clara e perceptível a dificuldade de alcançar notas de excelência na modalidade em EaD, e aqui vale o registro de que, não se restringe ao mundo do ensino privado, afinal, a educação pública em EaD conseguiu apresentar resultados inferiores ao EaD das IES privadas.
O pouco que temos de cursos com Conceito 5 (Excelência), independente de ser público ou privado, em sua maioria, refletem “ilhas” com pouca representatividade de alunos, por vezes, abaixo de 10 participantes na prova (o que não se pode configurar como um EaD maduro e consolidado).
E uma vez mais, como já previsto, cursos em escala (alta volumetria de alunos), praticamente duplicam.
Grosso modo, comparando resultados de Universidades com EaD, por exemplo, mantém-se ao longo do triênio a tendência para ambas as modalidades que perfazem o Conceito 3 – Satisfatório, embora tenham uma diferença em torno de 20% a 30% do total da nota, na variável padronizada para Conceito 3. Nada de novo!
Levando-se em conta a escala/volumetria, o resultado pode até ser considerado válido, entretanto é preciso levar em conta a gestão de risco, proximidade com a nota de corte para conceito 2. Outro fator relevante são os impactos em IGC que, cada vez mais, tem crescido na proporção total de alunos com impactos já entre 50% a 70% do IGC das universidades.
O total de vagas para cursos em EaD não para de crescer, assim como as estratégias das IES/Grupos na aposta do EaD e Semi-Presencial como forma de “amenizar” os resultados financeiros, utiliza-se do ticket médio para “atrair” e manter-se “vivo” no mercado educacional.
E por falar em mercado, impressiona a análise dos big players, com forte demanda de EaD/Semi-presencial, criando movimentação entre os grupos e trazendo novos posicionamentos. Muitos desses trazendo um peso já superior a 50% do alunado para a modalidade online e “buscando” alternativas que possam garantir a aprendizagem, evidenciada em indicadores de qualidade acadêmica, iniciando pelo ENADE.
Vale o registro: Tendemos a um impacto ainda maior de EaD nos resultados de ENADE, CPC e IGC a cada novo ciclo avaliativo daqui para frente.
Os resultados do ENADE 2021, no contexto pós-pandemia, trouxe, de maneira geral, a NIMA mantendo a liderança do posicionamento entre os “big players”, um cluster praticamente empatado envolvendo AFYA, VITRU e YDUQS, e um segundo cluster com a SER, CRUZEIRO DO SUL e COGNA. Em um ambiente de muitas aquisições e fusões, vale o destaque aqui para a VITRU e da YDUQS (que realizaram fortes e boas aquisições), ambas juntando-se a AFYA no cluster de qualidade.
Compreendemos ser difícil o estabelecimento de critérios de avaliação isentos de imperfeições. Por esse motivo, é necessário que instrumentos dessa natureza estejam sujeitos a constantes avaliações visando à correção de distorções, e ao seu aprimoramento. Esse é o papel do MEC.
E neste novo contexto, pós-pandêmico, o EaD precisa ser pauta perene, efetiva e assertiva. Estamos ainda distantes do verdadeiramente necessário e que respeite às especificidades do EaD para uma justa avaliação dos cursos e IES.
Quanto ao papel das IES, cumpre estudar profundamente os resultados, entender as tendências e fazer as mudanças necessárias buscando níveis de excelência, mesmo em um contexto em que estes resultados pareçam inatingíveis dada a força do sistema regulatório, como mostram os resultados estudados do último certame – ENADE 2021.
Adriano Coelho
Sócio Consultor da Hoper Educação
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